Cada corpo tem uma identidade própria.Escolher um material para revestir ou dar forma a um elemento é caracterizar um corpo, é eleger uma expressão que o define e o demarca como algo especifico.(...)
(...)Forrar uma parede de azulejo é emprestar-lhe um brilho, uma métrica e uma duração que, sobreposta à base, ao tijolo e ao reboco, lhe confere uma dada particularidade.(...)
(...)O tijolo é paralelipipédico e é dificil curvar,é um módulo e pede uma dimensão especifica. O betão é uma pasta moldável mas não esculpível. A madeira dilata, contrai e pode-se gravar, se a envernizo, abafo-a, se a encero, deixo-a respirar. Mais do que o bonito e o feio, que são padrões culturalmente discutiveis, a escolha de um material responde à integridade de um corpo e de uma ideia. Por isso, projectar um edificio é pensar num sistema em que a expressão de cada elemento não é alheia à sua constituição.(...)
(...)A escolha do material é consentânea com o desenho da sua forma e com a natureza da sua utilização.Ou seja, há uma coesão que lhe dá uma identidade própria.
No extremo oposto temos a infeliz maioria das construções que se erguem pelo país afora,ilhas incluidas, onde são frequentes os anuncios em que se publica a venda de casas com «acabamentos à vontade do cliente». Esta situação só espelha uma profunda incompreenssão do papel do arquitecto.Escolher desinformadamente, na lógica do feio e do bonito, na senda da decoração e do gosto feito, pode hipotecar todo um raciocinio anterior que é uma das mais-valias da arquitectura, mas isso, em Portugal, é ainda um triste reflexo do atraso e da ignorância em que o país se movimenta.
Sérgio Fazenda Rodrigues :: A casa dos sentidos (crónicas de arquitectura)
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário