sexta-feira, 15 de maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

quinta-feira, 7 de maio de 2009

introdução.

"(...) Torna-se claro que estas duas analogias entre a nova arte e certas formas das épocas passadas são diametralmente opostas. A primeira, totalmente exterior, não terá consequências. A segunda é interior e encerra o germe do futuro. Após o período da tentação materialista, em que a alma aparentemente sucumbiu, mas de que entretanto se afasta, como de uma má tentação, emerge agora estimulada pela luta e pela dor. Os sentimentos elementares, tais como o medo, a tristeza, a alegria, que, neste período de tentação, poderiam servir como conteúdo da arte, pouco atraíram o artista. Este tentará despertar sentimentos mais subtis, ainda sem nome. Ele próprio vive uma existência completa, requintada, e a obra nascida do seu cérebro irá provocar no espectador capaz de sentir as mais delicadas emoções, que a nossa linguagem não pode exprimir. Mas, neste momento, raro é o espectador que consegue experimentar semelhantes vibrações. O que ele procura na obra de arte é uma simples imitação da natureza para fins práticos (retrato no sentido mais banal do termo, etc.), ou a imitação da natureza equivalente a uma certa interpretação (a pintura impressionista), ou, então, estados de alma disfarçados em formas naturais, aquilo que se denomina por Stimmung.Todas estas formas, quando são (mesmo no primeiro caso) um alimento espiritual, especialmente no terceiro caso, em que o espectador encontra um eco da sua alma. Naturalmente tal consonância (ou dissonância) não pode ser superficial: mas a emoção da obra pode ainda aprofundar e transfigurar a receptividade do espectador. De qualquer modo, obras desta natureza defendem a alma de toda a vulgaridade. Elas mantêm-na numa certa tonalidade, como o diapasão às cordas de um instrumento. Todavia, a depuração e a propagação deste som no tempo e no espaço permanecem limitados e não esgotam a capacidade de intervenção da arte."



Do espiritual na arte :: Wassily Kandinsky