segunda-feira, 23 de março de 2009

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"(...) Neste sentido, o homem dionisíaco é comparável a Hamlet: ambos penetram com olhar profundo na essência das coisas; ambos viram, e estão desencantados da acção, porque não podem alterar em nada a essência eterna das coisas; parece-lhes ridícula ou vergonhosa a pretensão de endireitar o mundo. O conhecimento mata a acção, para agir é indispensável que sobre o mundo paire o véu da ilusão - eis o que Hamlet nos ensina. Tal sabedoria não é análoga à do senhor Hans que, por demasiada reflexão, e por excessivas possibilidades, nunca se decide a agir. Não é a reflexão que nos impede de agir: é o verdadeiro conhecimento, a visão da verdade horrível, o que anula todos os impulsos, todos os motivos de agir, tanto em Hamlet como no homem dionisíaco."



A origem da tragédia :: Nietzsche

quinta-feira, 19 de março de 2009

A M O L G A D E L A

José Gil, o pensador! Difícil, denso, criativo. Em cada linha esboço um sorriso de contentamento, tento respirar entre capítulos, mas é tenso!
Identifico-me, pronto, disse…
Aqui fica uma amostra do que este livro poderá fazer: mói e destrói conceitos. É bom ver que não estamos sozinhos no meio dos iguais.
Identifico-me, pronto, disse…


“E se tudo se desenrola sem que os conflitos rebentem, sem que as consciências gritem, é porque tudo entra na impunidade do tempo - como se o tempo trouxesse, imediatamente, no presente, o esquecimento do que está à vista, presente.
Como é isto possível? É possível porque as consciências vivem no nevoeiro.
O que é o nevoeiro? Ele é a causa da não-inscrição ou esta existe por efeito daquele? É impossível responder a esta questão. Existiria antes uma dupla causalidade recíproca a partir de um trauma «inicial», ele próprio resultado da convergência e da acumulação de muitos pequenos acontecimentos traumáticos que fugiram à inscrição (histórica, social e individual). Qualquer coisa como um Alcácer-Quibir que se recusa a aceitar e de onde nasceu o nevoeiro. Não o da lenda, que é futuro e lugar de epifania, mas uma neblina presente que se apodera do interior da consciência e a rói, sem que ela dê por isso. Um «branco psíquico», ou melhor,uma multiplicidade de brancos psíquicos atravessam a consciência clara, de tal maneira que, sem que ela se aperceba, formam-se as maiores obscuridades e confusões. É o branco psíquico inconsciente esfarelando, fragmentando a consciência em mil bocados, cada um deles,no entanto, plenamente consciente no seu campo obrigatório. (...)

O nevoeiro é o plano invisível de não-inscrição. Pode parecer estranho defini-lo como um plano e não como um volume, mas não se trata de conceber a melhor analogia de formas, mas sim de funções: o nevoeiro, ou sombra branca, não constitui, por exemplo, um «meio» ou uma atmosfera. Estas são vividas pelo sujeito enquanto aquele designa um estrato inconsciente que se aloja na consciência (na linguagem, nas imagens, nos afectos, nas sensações). É um plano porque é um buraco, uma lacuna, um branco onde faltou uma inscrição na consciência e no discurso. O que provoca transformações radicais no comportamento e no pensamento do sujeito. "

GIL José, PORTUGAL, Hoje: O Medo de existir, Relógio D`Água Editores, Novembro 2004

sexta-feira, 13 de março de 2009

consciousness | man.i(n)festo

Um manifesto de consciência está cada vez mais em desuso, já que estamos cada vez mais no caminho da libertação da mente e de todos os conceitos que nos prendem a esta sociedade fútil e imoral. Quebrar com a barreiras, ir de encontro aos nossos limites é uma das palavras chave desta sociedade do século XXI, aquela que nos ensina a ser diferentes no meio dos iguais…Tentar impor o nosso código genético, será? Já que é aquilo que nos distingue e nos faz ser únicos. Porém, nos nossos dias isso por si só já não conta, não nos faz ser diferentes! Isto para chegar ao dito manifesto consciente da nossa inconsciência, paradoxo? Talvez sim, talvez não…talvez a única coisa certa no meio destes pensamentos será mesmo o paradoxo! Não pretendo um ser diferente pela mancha des(igual) que aparece no meio do todo… o mais difícil é ser-se diferente sendo-se igual. Quebrar barreiras.. será que é isso que te faz a ti um ser livre?? Ou faz de ti um ser mais igual aos outros todos? A mim parece-me muito forçado, demasiado igual ao mesmo. Uma contradição lógica será, de certo, uma das únicas certezas da minha experiência com pessoas e com a sociedade. Não digo que sei o que é certo e errado, nem que tenho toda uma solução para o final feliz, não é isso. Mas se respeitássemos mais a nossa consciência seria tudo mais fácil! Deve ser das poucas coisas que todos nós temos em comum. O serial killer quando tenta fugir à cadeira eléctrica tenta sempre a carta do inconsciente para se manter vivo. O inconsciente não tem noção dos actos, de que maneira iram afectar outras pessoas, nem as consequências que estas implicam. Daí o inconsciente ser dado como um doente. Nos nossos dias ser chamado de inconsciente é um insulto…Pronto, isto para chegar à hipocrisia da sociedade inconsciente, dos conceitos e das formulas perfeitas da lei que ninguém põe em prática no dia a dia, nem nas suas casas. Bando de actores com um sorriso posto que não respeita nada nem ninguém. E ainda chamam aos animais inconscientes? Eles vivem em relativa paz e harmonia, com um ciclo de leis que ninguém implementou.Apenas as deles, e essas, sabem bem segui-las à risca. Matar para viver. Foder para viver. Comer para viver. Não existem abstracções, não existem segundas explicações. Eles agem. Em conformidade com a sua natureza. Isto foi o que consegui escrever. Acho que estou a me tornar confusa e raivosa ao longo do texto. Se te identificares com algumas ideias, ou mesmo um fiozinho continua…si?De qualquer forma nós proclamamos a consciência. Qual é a diferença? Acusamos o instinto? Não. Acusamos o usar o instinto instintivamente… o automatismo deve ser usado conscientemente, com intenção… mesmo que a intenção seja não ter intenção nenhuma… o importante é o agir de. Usa a liberdade de consciência. Admite e responsabiliza-te pelos teus actos. Não sejas hipócrita! Não laves as tuas mãos como Pilatos!! Ao mesmo tempo… não quero um objectivo, um fim… mas quero um “estar” fullofpower… Agir de consciência. Ou não agir, está também correcto se for de consciência.

1. Queremos a consciência como o cenário onde tudo se desenvolve ou anula, onde tudo se cria ou destrói.
2. Queremos o paradoxo em tudo em que produzimos. A definição pela negação ou pela afirmação. Queremos mostrar os dois lados da mesma moeda, no todo, não tomando partidos, apenas mostrar o holograma.
3. Queremos uma atitude activa, mas também a passiva.
4. Percebemos que a sociedade de hoje proclama a liberdade, proclamamos o uso dessa liberdade com consciência de que ela existe para nos manter neutros.
5. Queremos celebrar a consciência como aquilo que nos pode tornar únicos no meio de todos os animais e humanos inferiores.
6. Em suma: não precisas de gritar para te fazer ouvir, basta saberes comunicar...


Consciousness until the starzzz................!